Duas espécies de cascudos descobertas no Rio Sapucaí: um tesouro da Serra da Mantiqueira

Pesquisadores identificaram recentemente duas novas espécies de peixes, exclusivas da região da Serra da Mantiqueira, destacando características inéditas e reforçando a importância da conservação ambiental na bacia hidrográfica do alto Paraná.

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Essas duas espécies pertencem ao gênero Neoplecostomus, conhecido popularmente como cascudos, e foram descritas por biólogos da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

O estudo, publicado na revista Neotropical Ichthyology, detalha que a descoberta ocorreu nas nascentes do Rio Sapucaí, um afluente do Rio Grande localizado na bacia do alto Paraná. A área de estudo, situada nas altitudes da Serra da Mantiqueira, abrange partes dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Essas espécies são endêmicas da região, ou seja, não existem em nenhuma outra parte do mundo.

Características das novas espécies

As novas espécies dividem os riachos de alta altitude como habitat, mas apresentam diferenças marcantes em aspectos físicos e comportamentais.

A primeira espécie, Neoplecostomus altimontanus, é mais discreta, com um corpo coberto por manchas escuras bem definidas. Sua nadadeira adiposa é mais desenvolvida, ajudando na camuflagem em riachos sombreados.

Por outro lado, Neoplecostomus sapucai exibe um padrão de cores mais chamativo, com listras claras ao longo do corpo. Essa espécie possui uma nadadeira adiposa reduzida ou até ausente, característica que favorece a sobrevivência em riachos mais ensolarados e com menor densidade de vegetação.

Curiosidades biológicas

Um detalhe único sobre essas espécies é o dimorfismo sexual dentário: os machos possuem dentes grandes e robustos, enquanto as fêmeas apresentam dentes menores e delicados. Essa diferença pode estar relacionada a hábitos alimentares distintos entre os sexos.

Além disso, as duas espécies apresentam uma redução nas placas ósseas laterais, o que deixa seus corpos mais lisos – algo incomum entre os Neoplecostomus, conhecidos por suas placas rígidas e texturizadas.

Ameaças ambientais

Os riachos de montanha onde esses cascudos vivem, a altitudes entre 1.000 e 1.500 metros, estão sob risco devido ao desmatamento e às mudanças climáticas. O aquecimento global pode alterar a temperatura desses habitats, prejudicando a sobrevivência de espécies adaptadas a ambientes frios e específicos.

Outro fator preocupante é a destruição da vegetação ciliar, que protege as margens dos rios. Sem essa cobertura, ocorre o assoreamento dos leitos, comprometendo os refúgios entre pedras – locais fundamentais para os cascudos.

Conservação e biodiversidade

A descoberta dessas espécies ressalta a necessidade de ações urgentes para preservar a rica biodiversidade da Serra da Mantiqueira. A bacia do alto Paraná já abriga 12 das 20 espécies conhecidas de Neoplecostomus, evidenciando a importância dessa região como um dos maiores redutos de diversidade de cascudos na América do Sul.

Com mais de mil espécies de peixes de água doce descritas no continente, a maioria delas de pequeno porte e restritas a áreas específicas, a conservação desses habitats é crucial para garantir o futuro dessas espécies únicas e da riqueza natural que representam.

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